Departamento de Artes da UFPr Revista Eletrônica de Musicologia Vol. 1.2/Dezembro de 1996 Home
A OBRA PIANÍSTICA DO PADRE JOSÉ DE ALMEIDA PENALVACarmen Célia Fregoneze
Introdução
O panorama heterogêneo da música brasileira e, paradoxalmente, a centralização do foco dos estudos sobre os movimentos musicais no eixo Rio-São Paulo, indicam a necessidade de abordar e estender a análise crítica da produção musical brasileira contemporânea às outras regiões do país. Neste intuito, verifica-se de imediato uma primeira deficiência, que é a escassa bibliografia sobre os compositores regionais brasileiros contemporâneos. Há uma falta de estudos sistemáticos de maior profundidade e que não apenas citem brevemente os currículos e as principais obras dos compositores.
O Paraná, um estado que sempre valorizou a cultura, propiciou condições para o desenvolvimento das artes e é hoje espaço de importantes músicos, intérpretes e compositores. Muitos dos artistas que atuaram neste estado no passado têm sido alvo de menções por parte de críticos e estudiosos da cultura paranaense. No entanto, não há menção aos músicos contemporâneos paranaenses na bibliografia existente sobre a música brasileira do século XX. A produção de compositores ainda vivos, como o Padre José Penalva, é omitida simplesmente ou mencionada apenas de passagem.
Uma das personalidades mais atuantes na vida musical curitibana, o Padre José Penalva é também teólogo, regente, escritor e professor e tem contribuído de maneira significativa para o desenvolvimento da música erudita no Paraná. Nasceu em Campinas - São Paulo, em 15 de maio de 1924. Começou seus estudos de piano aos quatro anos de idade.
O conjunto de obras do Padre José Penalva, cujo catálogo é integrado por 168 [1], inclui 33 obras para voz e instrumento (constando deste grupo a sua primeira composição, Quid Retribuam, de 1945), 61 obras para coro a capella e 18 obras para coro e instrumentos. A produção para instrumentos solistas inclui uma peça para órgão e doze peças para piano. São sete as obras para conjunto de música de câmara e cinco para orquestra. As obras para orquestra, coro e solista são doze, constando deste último grupo o seu Oratório - dos Quatro Cavaleiros do Apocalipse, estreado em maio de 1992. Neste catálogo é proeminente a produção par piano que inclui: Sonata 2 (1960), Prelúdio e Fuga (1961) [integrada a Nova et Vetera com o nome de Preludietto e Fuga, 1990], 3 Versetos (1963), Mini-Suíte nº 1 (1968), Mini-Suíte nº 2 (1969), Sonata 1 (1970), Mini-Suíte nº 3 (1971), Marcas (1972), Diálogo (1973), Nova et Vetera (1990), Ponteio (1990), Sonata 3 (1991).
A falta de trabalhos analíticos sobre a obra pianística do Padre José Penalva justifica a necessidade de oferecer uma alternativa aos escassos trabalhos bibliográficos sobre a música deste compositor.
A presente pesquisa foi norteada pelas seguintes perguntas:
1 - A análise das obras pianísticas do Padre José Penalva resulta na identificação de recursos composicionais consistentemente utilizados pelo compositor?
2 - A utilização destes recursos composicionais possibilita a delimitação dos traços estilísticos do compositor?
A obra para Piano
O corpo de obras para piano do Padre José Penalva foi submetido no presente trabalho a uma análise de superfície, com o propósito de determinar o idioma musical do compositor. Esta observação analítica verificou se há ou não recursos musicais recorrentes, por constância ou por contraste, que venham a constituir traços estilísticos próprios.
A análise de superfície deve ser entendida neste caso como a observação dos recursos musicais de maior freqüência nas obras do compositor. Estes recursos provém de fontes diversas (formas, idioma e técnicas composicionais, referências a outros repertórios), porém são integrados a obras musicais resultando na construção do idioma musical do compositor, definindo e sintetizando seus traços estilísticos. A análise de superfície e a conseqüente identificação das técnicas composicionais e dos recursos musicais aos quais o compositor mostrou-se mais sensível e que responderam às suas necessidades de expressão é que delimitaram suas diversas fases de composição na presente pesquisa. Posteriormente a esta análise, foram reunidos os recursos musicais que perpassam o todo da obra, definindo assim os traços estilísticos do compositor.
Os gêneros abordados na obra pianística do Padre José Penalva indicam a divisão de suas peças em três grupos:
- Grupo das peças de dodecafonismo ortodoxo e não ortodoxo, seguindo o modelo formal da suíte (Mini-Suítes 1, 2 e 3);
- Grupo das peças de grande forma, escritas em dodecafonismo ortodoxo, tonalismo e atonalismo, seguindo o modelo formal da sonata clássica (Sonata 1, 2 e 3);
- Grupo das peças isoladas, com forma livre, escritas em dodecafonismo ortodoxo e não ortodoxo, havendo também uma peça tonal e uma atonal.
Diante de cada peça pertencente a cada um dos três grupos, foi inicialmente analisada a organização intrínseca de cada uma, avaliando-se os seguintes aspectos: construção formal, divisão do todo em partes e/ou seções, elementos que se articulam como transição de seções ou partes, elaboração de temas e fragmentos temáticos nas peças de grande forma (as Sonatas), construção fraseológica, idioma harmônico, manipulação da série dodecafônica nas peças seriais, texturas, contornos melódico e rítmico, fragmentações melódicas e rítmicas, movimento dinâmico, freqüência de padrões rítmicos, variações de pulsação e andamento de uma peça, liberdade de agógica, tratamento de teclado, contraste entre caráter rítmico e caráter expressivo.
Posteriormente desenvolveu-se a análise de superfície propriamente dita. Sobre cada peça foram fornecidas informações gerais, onde constam as características de maior ocorrência encontradas no todo de cada obra. A análise de superfície é complementada também pelos relatos do compositor, obtidos através de entrevista pessoal, e comentários, onde encontra-se a observação analítica dos recursos musicais utilizados pelo compositor dentro de cada parte, seção e movimento pertencente a uma obra.
Da análise de superfície resultaram observações que apresento a seguir resumidamente, aludindo às Suítes, às Sonatas e às peças esparsas nesta ordem.
A Mini-Suíte nº 1 inclui quatro movimentos: Introdução, Ciranda, Modinha e Valsa. O compositor utiliza o dodecafonismo como técnica composicional e trabalha com a série original e sua inversão e retrogradação.
Na Mini-Suíte nº 2 o compositor utiliza o dodecafonismo procurando combiná-los com elementos do folclore. A peça é constituída por três movimentos: Cana-verde, Ponteio e Sincopado.
A Mini-Suíte nº 3 é integrada por apenas duas peças: Toc-toc e Murucututu. O compositor continua utilizando aqui a técnica dodecafônica, porém em ambas as peças a série aparece de forma fragmentária.
A Sonata 2 é propriamente a número 1. Foi um trabalho de escola, o qual o compositor não publicou e nem pensa em publicar. É constituída por três movimentos: Moderato, Andante Cantabile e Rondo-Allegro.
Sonata 1: Foi a segunda Sonata escrita pelo compositor, porém a primeira a ser editada. Contém apenas dois movimentos, Seresta e Desafio, onde o compositor dodecafonizou linhas melódicas populares.
A Sonata 3, que ainda espera pela sua edição, possui linguagem atonal e inclui três movimentos: Allegro, Andante e Rondo-Agitato.
Nova et Vetera: esta peça é a primeira composição do catálogo de obras para piano de José Penalva e também a sua primeira peça em linguagem tonal, em releitura de 1990. Nesta releitura o compositor reuniu três peças isoladas e as refez: Fughetta (1956), Mozartiana (1960) e Preludietto e Fuga (1960).
3 Versetos: Primeira peça dodecafônica do compositor, segundo o seu próprio depoimento, é fiel à técnica dodecafônica e integrada por pequenos versos independentes.
Marcas: Nesta peça o compositor utiliza novamente o dodecafonismo, porém de maneira não ortodoxa. A série de doze sons aqui não é utilizada com caráter estrutural e sim incidental.
Diálogo: Peça na qual o compositor utiliza técnicas expandidas no tratamento do teclado. Possui caráter aleatório devido à execução indeterminada de certos recursos musicais utilizados, como batidas na caixa do piano, tremolo com dois dedos e clusters.
Ponteio: Primeira peça atonal do catálogo de obras para piano do padre José Penalva, conforme o próprio compositor, o nome veio depois que foi escrita.
A análise das obras para piano do Padre José Penalva indica que há recursos musicais que perpassam o todo da obra, proporcionando uma unidade. Embora fases diferentes possam ser apontadas, há certos recursos musicais contrastantes cuja ocorrência é independente de fases. Mesmo a diversidade de gêneros, formas, estruturas e técnicas composicionais não impede o aparecimento de traços estilísticos individuais, já desde as primeiras obras. O emprego contrastante de técnicas composicionais aponta para a ruptura definitiva entre uma fase e outra, não como obras que finalizam uma fase e dão início a outra, mas sim com modificações de linguagens que definem e separam as fases, inclusive com intervalo de mais de uma década. A mudança radical de linguagens ocorre devido à vontade do compositor de escrever música de seu tempo e, segundo seu depoimento, de misturar coisas antigas e novas.
São três as fases em que pode ser dividido o conjunto de obras do compositor tomando-se por base a utilização de diferentes técnicas composicionais: fase tonal, fase serial e fase atonal.
A primeira fase contém duas obras de linguagem tonal, Nova et Vetera e Sonata 2, onde o compositor utilizou títulos provenientes do barroco e classicismo e seguiu modelos formais clássicos. Nova et Vetera apesar de pertencer ao grupo de peças isoladas e com forma livre, é constituída por duas peças que receberam uma moldura clássica: Fughetta e Preludietto e Fuga. Nesta fase e dentro de uma mesma peça a roupagem harmônica é tornada ambígua através de notas estranhas à tonalidade e da inclusão de trechos dissonantes entre partes consonantes, como na Mozartiana. Estas características definem o estilo do compositor nesta fase inicial. Na Sonata 2 também ocorre o distanciamento da tonalidade através da utilização de notas estranhas e da presença freqüente de acordes com sétima que não conduzem à tônica ou não encontram resolução. Esta dissimulação de tonalidade, equivalente à utilização do tonalismo como "pano de fundo" de uma peça, é também uma característica do estilo do compositor nesta fase inicial.
A utilização da técnica composicional dodecafônica inaugura a segunda fase da obra do Padre José Penalva. Foi em 1960 que ele compôs sua primeira peça dodecafônica, o Duo Seraphim, para coro e instrumentos. Foi em 1963, nos Versetos, única peça escrita em dodecafonismo ortodoxo e com forma livre, que o compositor optou pelo dodecafonismo nas suas composições para piano. Nesta fase, que se estende até 1973, encontra-se seu maior número de obras, cuja unidade é garantida pela utilização do dodecafonismo como elemento estruturador. Nas obras desta fase, o dodecafonismo está aliado à temática folclórica brasileira e a modelos formais clássicos como a suíte nas Mini-Suítes e a sonata na Sonata 1. Até 1970, as obras da fase dodecafônica revelam uma utilização ortodoxa da série, não fugindo dos preceitos indicados por Schoenberg em suas primeiras obras seriais. No período final da fase dodecafônica, entre 1972 e 1973, o compositor distancia-se da ortodoxia na utilização da série de doze sons e passa a escrever com séries fragmentadas e que possuem caráter incidental e não estrutural. A série passa a fazer parte do discurso musical como um elemento de ocorrência, e não mais como elemento gerador do discurso.
Depois de dezoito anos, em 1990, o compositor dá início a sua fase atonal, onde ocorre a presença de apenas uma outra peça isolada e com forma livre: o Ponteio. A Sonata 3 apresenta traços novos para o compositor que está fazendo renascer sua obra pianística e que pretende refletir o momento atual através de uma nova linguagem. Esta se manifesta através da utilização do atonalismo e de novos efeitos sonoros e novas combinações rítmicas.
As peças de grande forma - as Sonatas - merecem comentários específicos, pois que ali observa-se a exploração de outros recursos musicais. Estas peças são os pontos marcantes de cada uma das fases, pertencendo cada sonata a uma fase diferente, havendo alguns aspectos que são similares e outros que são contrastantes entre elas. A forma e a linguagem são os elementos de maior importância a serem explicitados, pois o primeiro nos mostra as similaridades e o segundo os contrastes que ocorrem. Os primeiros movimentos de cada uma das três sonatas seguem o modelo formal da sonata clássica, contendo exposição, desenvolvimento e reexposição. A exposição não é bitemática, não ocorrendo temas que funcionem como idéia geral do movimento. Há diversidade e grande número de temas e fragmentos temáticos nestas obras e sua manipulação é notável. Nos desenvolvimentos os temas da exposição não são elaborados, ocorrendo apenas citações de fragmentos melódicos e rítmicos já utilizados anteriormente, modificados em dinâmica e textura. Pode ocorrer exposição de novos temas contrastantes, como na Sonata 3. Na reexposição há a repetição fiel dos temas e fragmentos temáticos da exposição, com modificações apenas de dimensão, devido ao acréscimo de compassos ao final da peça.
A Sonata 2 possui vários elementos que identificam características do compositor. Entre eles estão diversidade de temas, contrastes rítmicos e expressivos entre eles, contrastes de andamento dentro de um mesmo movimento, liberdade de agógica, reutilização de fragmentos de elementos rítmicos e melódicos já ocorridos anteriormente, a presença de seqüências ascendentes ou descendentes antecedendo novas seções, polirritmia e deslocamentos rítmicos, repetições de um desenho melódico com ritmos diferentes, fragmentações de elementos melódicos e rítmicos que são colocados como interjeições durante o discurso musical ou no final de seções e repetições de elementos rítmicos e melódicos em crescendo e accelerando nas transições de seções. A Sonata é o ponto culminante da fase dodecafônica, possuindo um fio condutor que traça um elo com obras anteriores e posteriores devido à recorrência de elementos do vocabulário musical do compositor, ligando uma obra a outra.
É na Sonata 1 que observamos a amplitude do estilo do compositor, tal como na obra coral, devido à maneira com que elabora e articula os elementos dentro do discurso musical. Aqui, o que foi utilizado nas peças mais curtas é transformado e elaborado em novas proporções. Esta obra tem um elo com as anteriores devido à utilização do serialismo aliado à temática folclórica e aos modelos formais clássicos. O elo com as obras posteriores reside no tratamento do teclado, na freqüência dos ritmos sincopado e em contratempo e na presença de massas sonoras. Esta sonata marca o início da fase mais agressiva do compositor. Portanto, esta obra reúne e resume todos os recursos musicais explorados pelo Padre José Penalva, caracterizando de maneira clara seus traços estilísticos nesta fase de maior produção.
A Sonata 3 apresenta idéias distintas entre si e em relação às peças de fases anteriores, porém não deixa de apresentar os traços estilísticos já estabelecidos pelo compositor, através da utilização de elementos que formaram o seu vocabulário musical. Novamente muitos recursos musicais de fases anteriores são incorporados, adquirindo nesta obra uma identidade própria dentro do discurso musical.
Entre os recursos musicais que foram utilizados nesta obra destacam-se particularmente a linguagem atonal, a textura mista, a freqüente utilização do cromatismo na melodia e no acompanhamento, a presença de temas contrastantes no desenvolvimento e a utilização da figuração rítmica de tercinas, as quais aparecem com freqüência nas partes melódicas.
Nas três sonatas há sempre um elemento unificador ou estruturados dentro de cada movimento. Muitos dos elementos que são utilizados nas três sonatas fazem parte do próprio vocabulário musical do compositor e são encontrados desde as primeiras obras, definindo traços estilísticos comuns.
No conjunto das obras do Padre José Penalva é relevante a fusão de diversos recursos musicais, pois é uma característica que o percorre desde o início, configurando também um traço estilístico. É relevante também a presença de recursos musicais contrastantes que perpassam o conjunto das obras, sendo encontrados separadamente e em peças diferentes. Entre eles estão:
- em Nova et Vetera - exceção entre as peças isoladas e que possuem forma livre, pois entre as três peças que a integram, duas seguem modelos formais clássicos: Fughetta e Preludietto e Fuga;
- nos 3 Versetos - a série fornecida não é utilizada em todas as peças;
- na Mini-Suíte nº 1 - na Introdução não ocorre a utilização da temática folclórica, a qual percorre a peça;
- na Mini-Suíte nº 2 - exposição da série não apenas em textura horizontal, mas também em textura vertical, com alturas integradas a interjeições de acordes;
- na Mini-Suíte nº 3 - exposição da série inicialmente fragmentada;
- na Sonata 1 - única ocorrência de dois movimentos em peça de grande forma;
- em Marcas - peça multisseccional constituída por temas contrastantes, contendo uma série dodecafônica que não funciona como elemento estruturador da peça;
- no Diálogo - peça na qual ocorre a fusão das técnicas composicionais dodecafônica, aleatória e expandida;
- na Sonata 3 - predominância de intervalos cromáticos na melodia. O desenvolvimento possui nesta peça uma função estrutural, porém não se utiliza de temas e fragmentos temáticos da exposição, como nas Sonatas 1 e 2;
- no Ponteio - única peça isolada e com forma livre de linguagem atonal.
Das três fases em que foi dividida a obra para piano de José Penalva é possível extrair os recursos musicais que perpassam a obra por completo e que configuram traços estilísticos individuais. São eles:
- Utilização de modelos formais clássicos;
- Contrastes entre textura horizontal e textura vertical dentro de uma mesma peça;
- Ocorrência de um elemento que proporciona unidade à obra, sendo muitas vezes o elemento gerador do discurso, como por exemplo a utilização da série dodecafônica;
- Exploração do teclado de maneira predominantemente percussiva, devido à utilização de agregados verticais, clusters e blocos sonoros dissonantes;
- Flexibilidade na indicação metronômica;
- Liberdade de agógica devido às constantes indicações de mudanças de andamento;
- Diversidade de pulsação dentro de uma mesma peça ou movimento;
- Freqüentes e abruptos contrastes de dinâmica e de registros;
- Presença constante de contrastes entre caráter expressivo e caráter rítmico;
- Reforço dos deslocamentos rítmicos pelas indicações dos acentos tenuto e marcato;
- Uso da síncope e do contratempo;
- Freqüente utilização da polirritmia;
- Repetições de um desenho melódico com ritmos diferentes;
- Alargamento do tempo cronológico através de ligaduras que se estendem para além da barra de compasso ou através de fermatas no final das peças, prolongando as ressonâncias;
- Presença de reminiscências melódicas e rítmicas de seções anteriores no final de várias obras;
- Diversidade de temas e fragmentos temáticos dentro de um mesmo movimento ou peça;
- Fragmentações melódicas e rítmicas no decorrer do discurso musical;
- Presença de seqüências ascendentes e descendentes antecedendo novas seções;
- Freqüentes indicações quanto ao caráter do ritmo e da melodia.
Segundo Stein [2], "basicamente, análise implica em identificar e relacionar semelhanças e distinguir diferenças. Conseqüentemente, nem descrição ou avaliação são as bases da análise, mas sim o estabelecimento de relações". Esta citação serve como síntese do que foi realizado nesta pesquisa, pois foi a relação entre as semelhanças e a distinção entre as diferenças que possibilitaram a análise das obras e a delimitação dos tempos estilísticos do compositor. A análise da obra pianística do Padre José Penalva e a observação dos materiais básicos utilizados, das características próprias de cada obra e da maneira como os elementos musicais se articulam e transformam dentro do discurso musical, resultaram na identificação de uma pluralidade de recursos musicais utilizados pelo compositor. Ao mesmo tempo, há uma constância na utilização destes elementos, o que produz uma linguagem musical consistente. Dentro de cada fase composicional apontada, há coesão devido tanto à utilização de recursos musicais comuns quanto à utilização de recursos musicais contrastantes. Foi esta coesão resultante de elementos diversos que possibilitou delimitar os traços estilísticos individuais do compositor. A superposição e a fusão de elementos da linguagem musical, independentemente de serem novos ou velhos, comuns ou contrastantes, é o ponto culminante da obra pianística do Padre José Penalva, individualizando-a dentro da produção musical brasileira.
Referências Bibliográficas(1) José Penalva - Catálogo de Obras. Boletim informativo da Casa Romário Martins. Curitiba, Fundação Cultural de Curitiba, 1988, vol. 15, nº 80., 44 p. (retorna)
(2) Apud GANDELMANN, Salomea. Literatura Pianística Brasileira Contemporânea. Comunicação apresentada no IV Encontro Anual da ANPPOM, Porto Alegre, 17 de setembro de 1991. IV Encontro Anual da ANPPOM - Anais, Porto Alegre, 1991. 4 p. (retorna)
Carmen Célia Fregoneze, professora do curso superior da Escola de Música e Belas Artes do Paraná, é Mestre em Música pela UFRGS e possui pós-graduação em música pela Musikhochschule Stuttgart, Alemanha. (retorna)