Departamento de Artes da UFPr
Revista Eletrônica de Musicologia
Vol. 1.1/Setembro de 1996
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UMA TABLATURA PARA SALTÉRIO DO SÉCULO XIX

Rogério Budasz

I. Introdução

Geralmente aceito como o primeiro a demonstrar preocupações com o registro historiográfico na região hoje compreendida pelo Estado do Paraná, Antônio Vieira dos Santos (1) era na verdade um grande curioso. Escreveu obras no campo da genealogia e lingüística, desempenhou funções políticas e religiosas e foi um dos introdutores do cultivo da erva-mate na região.

Além disso, suas memórias revelam ainda o interesse pela música, que teria tomado impulso em 1805, quando passou a receber lições de saltério de um certo Manuel Francisco Morato, em Paranaguá (2). Entre as obras de sua biblioteca figurava já em 1823 um "caderno de marchas, minuetes e contradanças do saltério." (3) Também Francisco Negrão, na Genealogia Paranaense, afirmou que o cronista teria escrito um estudo sobre o ensino do saltério, de que era exímio executor musical (4). Partindo destas informações localizamos em abril de 1994 nos arquivos do Círculo de Estudos Bandeirantes, (5) em Curitiba, um códice manuscrito de sua autoria, contendo grande número de peças musicais de gêneros variados em tablatura para saltério. Constitui-se esta obra na mais antiga coleção de música não religiosa encontrada no Estado do Paraná e, em nível nacional, na maior e mais variada da primeira metade do século XIX. Trata-se de um documento fundamental para o estudo da música popular e de salão no Brasil e em Portugal de fins do século XVIII a meados do XIX, um verdadeiro catálogo do que se fazia em matéria de música nos salões da colônia.

II. O códice

O códice manuscrito Cifr[as de música para] s[altério] compõe-se de 114 páginas em formato oblongo, medindo 31,5 x 21,2 cm. Parece ter sido escrito em Paranaguá ou Morretes durante a primeira metade do século XIX, encontrando-se atualmente sob a guarda do Círculo de Estudos Bandeirantes, em Curitiba. Embora a página de rosto onde constaria o nome do autor encontre-se mutilada, podemos identificá-lo como sendo Antônio Vieira dos Santos (6). Isso devido a uma série de razões, como a caligrafia e o tipo de papel utilizados, idênticos aos de outras de suas obras, além do já citado comentário de Francisco Negrão.

FIG. 1: Antonio Vieira dos Santos, Cifr[as de música para] s[altério], p. 1.

O quadro seguinte fornece uma visão geral da estrutura do manuscrito e distribuição das obras:

PÁGINA

CONTEÚDO

Pág. de rosto

Título, autor (mutilada)

Idem, verso

Advertências dos sinais que se usam na cifra (mutilada)

1

Descrição do instrumento, ilustração

2

Encordoamento e afinação

3 - 4

Salterio (introdução)

5 - 7

Tons naturais do saltério, afinação, entoação, ajuntação das vozes.

8

Modo de afinar a viola pelo saltério

8

1 Prelúdio

11 - 26

23 Marchas

27 - 29

9 Retiradas

29 - 30

4 Zabumbas

30 - 31

3 Séries Amáveis

32 - 67

53 Minuetes

68

1 Miudinho

68

1 Composição

69 - 72

2 Tocatas

72 - 73

1 Giga

74 - 77

4 Adagios

77

1 Modinha

78

1 Solo Inglês

78

1 Turel

78 - 79

3 Cotilhões

79 - 80

3 Valsas

80 - 85

19 Contradanças

86 - 87

8 Modinhas

87

1 Cantiga ou Hino

87

1 Hino nacional

88 - 90

5 Lundus

90

1 Baiana

90

1 Tonta

91 - 92

1 Chula ponteada

92 - 93

1 Desterro

93 - 95

7 Tiranas

95

1 Vilão

95

1 Fandanguilho espanhol

95

1 Chico do Rio

96

1 Recortado

96

1 Furrundu

96

1 Anu

96

1 Batuque

97 - 98

2 Repiques

98

1 Miudinho

98

1 Bitu

99

1 Lundu

99

1 Modinha

99

1 Hino

99

1 Composta (Comporta?)

[109-111]

Índice

[112]

Nomes de varios toques e modinhas (?) brasileiras

O conteúdo do códice, que totaliza 171 músicas, pode ser dividido em dois grupos principais:

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